segunda-feira, 26 de julho de 2010

Como conversar sem se entender?

Revista em afrikaans.
 Imagem de Debora Teixeira
Respeitar as diferenças ou unificar o país sob uma mesma língua? No Brasil, apesar do tamanho do território, optou-se pela segunda opção. No caso da África do Sul, que ficou conhecido como Rainbow Nation (nação arco-íris) após o fim do apartheid por sua diversidade, escolheu-se manter acessas as culturas das tribos e grupos étnicos. Com isso, busca-se reconhecer os "direitos básicos dos indíviduos" pertencentes a esses grupos, como consta no site do Consulado Geral da África do Sul no Brasil. Assim, ainda que o inglês seja a língua predominante no meio empresarial, a Constituição de 1995 determina como oficiais 11 línguas: Afrikaans, Inglês, isiNdebele, Sesotho sa Leboa (Sotho do Norte), Sesotho (Sotho do Sul), siSwati, Xitsonga, Setswana, Tshivenda, isXhosa e isiZulu.

Apesar de acreditar que é importante respeitar cada cultura, enxergo a quantidade de línguas faladas na África do Sul como uma faca de dois gumes, pois também serve como uma forma de segregação. Como conversar sem se entender? A diferença de línguas pode significar uma demarcação das relações sociais em grupos restritos. Os brancos, em sua maioria, falam o afrikans, uma espécie de mistura de inglês com holandês e línguas locais. Os negros falam as línguas tribais. Os estrangeiros falam o inglês. Como eles conversam? Bem...

Ainda que existam negros e brancos que falem o inglês perfeitamente, existem também escolas, jornais, revistas e canais de televisão distintos para cada língua falada, o que leva ao questionamento se, de fato, as versões apresentadas são iguais em todos. As notícias de um jornal em zulu são as mesmas de um jornal em afrikans? A história do país apresentada em uma aula em um idioma é a mesma da apresentada em outras? Como se fala sobre um branco em um jornal de língua "negra"? E o contrário?

Assim, além de se apresentar como um obstáculo às conversações, a diversidade de idiomas pode influir na forma de transmissão dessas mensagens que, por sua vez, podem interferir na visão que um grupo tem do outro. As representações sociais e, consequentemente, as relações que resultam delas acabam se tornando muito marcadas por essa diferença. Vide o exemplo do futebol, geralmente transmitido na TV com narrações em zulu, marcando-o como um esporte predominantemente de negros. Investigar como isso ocorre no dia a dia é uma das coisas que pretendo fazer por lá.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pós Copa

Gostaria de acreditar que o resultado da Copa do Mundo Fifa 2010 para a África do Sul foi o mesmo do proclamado no filme Invictus - que fala sobre outro mundial sediado em terras sul africanas, o de rugby de 1995. Infelizmente, nem mesmo o final otimista dos cinemas equivalia à realidade do país após os Springboks levarem o título, como já disse em um post escrito para o Rola Blog.

No caso do evento desse ano, muitos já previam que os benefícios seriam muito menores. A jornalista Daniela Pinheiro, da Piauí, escreveu uma matéria para a revista nº 44 comentando exatamente isso. Segundo ela, as exigências descabidas da Fifa resultariam em gastos imensos para o governo da África do Sul e em quase nenhum retorno turístico, diferente das expectativas do país quando se candidatou a sede.

Quanto à discriminação racial, parece que atrair os holofotes da mídia mundial durante o evento esportivo não foi suficiente. Apesar da imprensa condenar e contar como o país ainda é dividido, pelos relatos que li e ouvi, muito pouco ou nada mudou. Vários tipos de ódio "inter-racial" - entre aspas porque a ciência já nos revelou que não existem raças humanas, apesar de isso ainda ser amplamente utilizado em pesquisas de recensemento e em políticas de cotas em universidades no Brasil - ainda estão presentes no país.

Segundo depoimentos de quem mora lá e convive com a população branca, o apartheid é lembrado com saudosismo por muitos. E os argumentos são os de que a violência cresceu a níveis apavorantes após o fim do regime segregacionista. Lógico que essas pessoas se referem à violência dirigida contra eles, já que antes eram somente os negros quem estavam sujeitos a vários tipos de violência - física, moral, social. Ainda asssim, a permanência de pensamentos desse tipo parecem abalar uma possível convivência entre negros e brancos.

E o jornalista Fábio Zanini, da Folha, conta em seu blog que boatos de outra onda de ódio contra imigrantes de outros países africanos ameaça a "paz" da África do Sul.

Por enquanto, acompanho o relato de quem está por lá. Em breve, espero ter meu próprio olhar e, quem sabe, até poder falar sem esse tipo de julgamento, entendendo a realidade sul africana segundo os olhos de seus habitantes.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Preparativos burocráticos

Viagem internacional pode ser a maior maravilha do mundo, mas, com certeza, também vem associada aos problemas dos preparativos: vistos, passaportes, documentos, legislação do país, troca de dinheiro em casas de câmbio...haja burocracia!

Pois é. No caso da viagem para a África do Sul, as dificuldades não são muitas. Isso se você não pretende passar mais do que 90 dias no país. Para os viajantes que querem ficar até três meses, o visto é tirado no próprio controle de imigração dos aeroportos do país, sem custos. Só é preciso tirar aqui no Brasil(é claro!) o passaporte e verificar as vacinas exigidas (no caso, a principal é a de febre amarela)para poder adquirir seu Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia, que é gratuito.

Aqui em Belo Horizonte, o passaporte pode ser tirado na Unidade de Atendimento Integrado (UAI), que fica na Praça Sete, ou na Superintendência da Polícia Federal, que fica na Rua Nascimento Gurgel, 30, Gutierrez. Informações sobre o passaporte bem como as guias estão disponíveis no site da Polícia Federal. Já o cartão internacional de vacina é de responsabilidade da ANVISA, que fica na Avenida Getúlio Vargas, 447,Funcionários. As vacinas atrasadas ou vencidas podem ser tomadas ou em algum posto perto de casa ou na própria ANVISA. É importante também avisar que é exigido que a vacina de febre amarela seja tomada pelo menos 30 dias antes da viagem.

Além disso, com o aumento da movimentação de viagens em direção ao país devido à - adivinhem? - Copa do Mundo, passaram a exigir outros "documentos" não oficiais. É necessária a comprovação da data de saída do país - basta apresentar a passagem de volta -, a comprovação do lugar em que a pessoa vai se instalar - apresentar as reservas de hotel ou, no meu caso, uma carta comprovando que vou ficar na casa da minha irmã, com o endereço - e de como ela vai se manter financeiramente por lá. Essa última parte, que para muitos pode ser chata, - pois requer apresentação de contra-cheques, cartões internacionais, etc - para mim será a mais fácil: serei sustentada pela minha irmã (teoricamente, mas...).

A moeda sul africana oficial é o "rand". Atualmente, um real vale aproximadamente 4 rands. Ótimo para fazer compras por lá! E a troca do dinheiro pode ser feita em casas de câmbio, que existem em vários lugares. Segundo conselhos da minha irmã, o melhor lugar para trocar aqui foi em uma casa no BH Shopping. Saiu bem mais em conta do que trocar no aeroporto.

Para quem quiser visitar a África do Sul e ainda tiver dúvidas, só consultar o link do Portal do Consulado Brasileiro em Pretória, que elaborou um "Guia do Torcedor Brasileiro" para a Copa, mas que é válido para qualquer viajante com destino ao país.

E pra quem pensa que essa trabalheira toda é burocracia exclusiva da África do Sul, esquece. No blog  Eu mundo afora uma amiga conta os percalços para quem vai conhecer a França.