Revista em afrikaans. Imagem de Debora Teixeira |
Respeitar as diferenças ou unificar o país sob uma mesma língua? No Brasil, apesar do tamanho do território, optou-se pela segunda opção. No caso da África do Sul, que ficou conhecido como Rainbow Nation (nação arco-íris) após o fim do apartheid por sua diversidade, escolheu-se manter acessas as culturas das tribos e grupos étnicos. Com isso, busca-se reconhecer os "direitos básicos dos indíviduos" pertencentes a esses grupos, como consta no site do Consulado Geral da África do Sul no Brasil. Assim, ainda que o inglês seja a língua predominante no meio empresarial, a Constituição de 1995 determina como oficiais 11 línguas: Afrikaans, Inglês, isiNdebele, Sesotho sa Leboa (Sotho do Norte), Sesotho (Sotho do Sul), siSwati, Xitsonga, Setswana, Tshivenda, isXhosa e isiZulu.
Apesar de acreditar que é importante respeitar cada cultura, enxergo a quantidade de línguas faladas na África do Sul como uma faca de dois gumes, pois também serve como uma forma de segregação. Como conversar sem se entender? A diferença de línguas pode significar uma demarcação das relações sociais em grupos restritos. Os brancos, em sua maioria, falam o afrikans, uma espécie de mistura de inglês com holandês e línguas locais. Os negros falam as línguas tribais. Os estrangeiros falam o inglês. Como eles conversam? Bem...
Ainda que existam negros e brancos que falem o inglês perfeitamente, existem também escolas, jornais, revistas e canais de televisão distintos para cada língua falada, o que leva ao questionamento se, de fato, as versões apresentadas são iguais em todos. As notícias de um jornal em zulu são as mesmas de um jornal em afrikans? A história do país apresentada em uma aula em um idioma é a mesma da apresentada em outras? Como se fala sobre um branco em um jornal de língua "negra"? E o contrário?
Assim, além de se apresentar como um obstáculo às conversações, a diversidade de idiomas pode influir na forma de transmissão dessas mensagens que, por sua vez, podem interferir na visão que um grupo tem do outro. As representações sociais e, consequentemente, as relações que resultam delas acabam se tornando muito marcadas por essa diferença. Vide o exemplo do futebol, geralmente transmitido na TV com narrações em zulu, marcando-o como um esporte predominantemente de negros. Investigar como isso ocorre no dia a dia é uma das coisas que pretendo fazer por lá.