segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Flashes de um braai afrikans

Para os meus vizinhos afrikaners aqui de Newcastle, um dos programas tradicionais de sábado ou domingo é o braai, o churrasco que geralmente vem acompanhado da linguiça, também tradicional, daqui, a boerewors. Isso mesmo: o nome vem dos boêres, os tradicionais fazendeiros descendentes de holandeses.

Em um dos fins de semana de sol na cidade, fomos convidados para um desses braais feito pela vizinha de casa. Sentados na varanda, tomando uma Castle (uma das cervejas locais) e comendo a boerewors temperada na maneira deles (passa-se no limão e em um temperinho de ervas), tudo como manda o figurino, conheci um outro casal de vizinhos, que estava acompanhado de sua neta mais nova.

Conversando com a vizinha, ela me contou que a netinha tinha entrado na escola do bairro, a Huttenpark Primary School, esse ano. Toda orgulhosa, disse que a menina falava bem o inglês e o afrikans, idiomas que estava aprendendo na escola. E acrescentou, indignada: "E ela está sendo obrigada a aprender também zulu". Tentei argumentar que aprender o idioma poderia ser importante para ela se comunicar bem com outras pessoas do país. Recebi a típica resposta racista disfarçada: "Não é que eu não goste dela aprender a língua 'deles', mas é que isso vai confundir a cabeça da menina, com esse tanto de idiomas".

Continuamos a conversa, em que eu mais ouvia do que falava, e ela, mais uma vez orgulhosa, contando sobre as belezas do país, disse que os filhos tinham vontade de mudar da África do Sul e passear em outros lugares. Ela, entretanto, preferia ficar aqui, mesmo que fosse "perigoso". "Não me importo se, para cada um de 'nós' (afrikaners e brancos), existem doze 'deles'. Esse é o meu país e as minhas raízes estão aqui". Dessa vez, achei melhor nem argumentar que é, também, o país 'deles', embora por muito tempo não tenha sido.

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